A
DIVISÃO DA ALEMANHA

A Alemanha era vista internacionalmente como culpada pelas duas grandes guerras mundiais que aconteceram no século XX.
Findada
a segunda guerra mundial as grandes potências
perceberam que era necessário ocupar a Alemanha com o objetivo de
impedir que os alemães voltassem a ser uma potência militar e viessem outra vez
a ameaçar a paz no mundo.
Desse
modo a Alemanha foi dividida em quatro áreas de influência pertencentes às
quatro grandes potências que saíram “vitoriosas” nos conflitos ocorridos
durante a segunda guerra mundial.
A
parte que ficou conhecida como Alemanha Ocidental era de influência dos Estados
Unidos, Inglaterra e França e foi criada dentro de um projeto de nação, para
ser reconstruída por um governo que fora eleito democraticamente, enquanto que
a zona de influência da União Soviética tornou-se a Alemanha Oriental, na qual
o sistema de governo era completamente diferente de uma democracia. A prova
disso é que o Partido Social Democrata (PSD), que dirigia a Alemanha Oriental e
por sua vez era dirigido por Walter Ulbrich recebia orientação da União
Soviética e do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).
O
Partido Social Democrata e o Partido Comunista se uniram para formar o Partido
Socialista Unificado da Alemanha que detinha o poder total na Alemanha
Oriental, pois era o partido central, o que mandava no país, pois eles eram
partidários da reforma agrária (ao modo deles), da expropriação dos grandes
monopólios industriais e dos bancos, da erradicação de tudo que fizesse parte
das bases do militarismo e do fascismo alemão.
A
administração soviética naquela época ,piorou a situação na Alemanha Oriental
em vista de que essas medidas, essa forma de governar, dificultava completamente a recuperação da economia.
Existiam
formalmente outros partidos políticos no país, porém todos eram obrigados a
integrar o grande bloco político, chamado Organização Democrática
Antifascista que mudou o nome
posteriormente para Frente Nacional e era dirigido pelo Partido Socialista
Unificado da Alemanha.
A
criação das duas Alemanhas se tornou inevitável uma vez que ocorreu a
elaboração de constituições diferentes nos dois Estados como também havia os
interesses divergentes dos EUA e URSS nos dois blocos de zonas de ocupação.
A
Alemanha Oriental passou a existir realmente como nação em 1949, mas as
condições econômicas do país em 1949 eram piores que em 1945, pois quando os
soviéticos chegaram nessa zona de ocupação eles destruíram quase toda a
economia, com o objetivo de saquear o país e de ter uma compensação financeira,
pois os alemães invadiram a URSS em 1941, e esta expropriação serviu como
vingança contra os alemães.
Os
soviéticos dilapidaram a Alemanha Oriental desmontando quase todo o Parque
Industrial, empobrecendo esse país, dificultando a sua reconstrução e impedindo
a legitimação de qualquer governo que pudesse ser estabelecido lá.
A
URSS tomou mais da metade das Indústrias
Químicas e Metalúrgicas e boa parte das Indústrias básicas e de bens de
consumo; as fábricas que ainda produziam na Alemanha Oriental trabalhavam para
pagar as dívidas de guerra sem prazo para o encerramento dessa dívida.
A
Conferência de Potsdam determinou que a Alemanha Oriental pagasse 10 bilhões de
dólares devido à guerra, mas Stalin queria 20 bilhões.
Isso
fez diminuir o consumo individual na Alemanha Oriental de 60% do PIB em 1936
para 30,9% em 1949 e o padrão de vida da população se tornou inferior ao que
era antes da guerra, tanto pela destruição que o conflito causou quanto pelas
políticas de expropriação na zona de ocupação soviética.
Na
Alemanha Ocidental a situação era melhor tanto por causa do Plano Marshal como
pela pressão dos sindicatos, que podiam pressionar já que o regime era
democrático e tinha eleições.
Os
EUA e a Inglaterra apoiavam a Alemanha Ocidental para que eles tivessem uma
rápida recuperação e recuperassem a soberania nacional, pois pela localização
geográfica eles se tornaram uma espécie de barreira de proteção a um possível ataque
soviético à Europa.
A
Alemanha Ocidental foi reintegrada à Comunidade Internacional e estabeleceu
rapidamente relações diplomáticas e econômicas com vários países do mundo o que
ficou conhecido como “o milagre alemão”.
Enquanto
isso os soviéticos atrapalhavam de propósito a recuperação do lado oriental.
O
resultado da política de Stalin, somado com a pobreza da região e a péssima
qualidade de vida causou uma fuga em massa de trabalhadores, camponeses e
intelectuais para a Alemanha Ocidental. Com essa fuga em massa de quase meio
milhão de alemães orientais para o lado ocidental, mais de 500 mil hectares de
terra foram abandonados o que, à médio prazo traria problemas sérios para o
governo.
O
governo não melhorou em quase nada a vida do povo o que ocasionou o surgimento
de protestos, revolta e tentativa de greve por parte do trabalhador da Alemanha
Oriental. Uma grande revolta se espalhou por 234 cidades e mais de 300 mil
trabalhadores entraram em greve e foram combatidos com violência o que causou a
morte de milhares de pessoas.
Revoltado
com o ocorrido Bertold Brecht, um dramaturgo alemão, satirizou o governo
dizendo que eles deveriam dissolver o povo e eleger outro, já que este povo não
despertava mais confiança.
Posteriormente
o povo da Alemanha Oriental aprendeu a ser um povo que necessitava de tudo,
devido às condições em que vivia. Era um povo que estava sob a vigilância da
Stasi, que era a polícia política da Alemanha Oriental, ou seja, era o serviço
secreto do país o qual era orientado pelo serviço secreto da URSS.
Os
agentes da Stasi se infiltravam em todos os lugares para espionar o povo, o
cidadão comum, e a vida de todos era normatizada pela Stasi. Os agentes da
Stasi, embora fossem alemães, eram mais fiéis à União Soviética que à Alemanha
oriental.
Por
conta dessa situação revoltante dos alemães orientais, a URSS emprestou 485
milhões de rublos para a compra de bens de consumo, suspendeu as exigências
quanto à reparação de guerra e fixou em
5% o orçamento máximo para gastar com o exército soviético que estava na
Alemanha Oriental, devolveu 33 empresas, tudo numa tentativa de “agradar” o
povo.
Quanto
à reunificação da Alemanha as potências estrangeiras tinham um pé atrás, e,
internamente havia o mesmo tipo de desconfiança em relação ao futuro da
Alemanha.
O
secretário geral do partido na Alemanha Oriental, o senhor Walter Ulbricht
propôs ao chanceler da Alemanha Ocidental, o senhor Konrad Adenauer que fosse
feita uma confederação a ser governada por um conselho, com representações
paritárias em ambos os lados e essa confederação deveria convocar eleições
livres e um referendo sobre a reforma agrária e a nacionalização das grandes
indústrias, porém a proposta não foi aceita por não ser possível haver acordo
entre uma ditadura e uma democracia.
A
reunificação deveria ser feita, quando acontecesse, pelo povo, através de
eleições e não por alguns governantes.
Nikita
Kruchev queria forçar as grandes potências a reconhecerem a soberania da
Alemanha Oriental e ameaçou devolver, em 1958, o controle das vias de acesso a
Berlim, fato esse que obrigaria todos os
interessados a negociarem diretamente com Alemanha Oriental e esta seria vista
então como um estado soberano.
Para
que o leitor compreenda esse detalhe é necessário saber que Berlim não ficava
localizada na divisa entre as duas Alemanhas e sim, que era localizada dentro
da Alemanha Oriental, sendo que para chegar a Berlim, era preciso passar por
dentro desse país.
Berlim
fora dividida ao meio e era administrada, uma parte pelas grandes potências ocidentais,
sendo que, tanto os EUA quanto a própria Alemanha Ocidental aplicaram grandes
somas na reconstrução de Berlim.
Os
norte americanos injetaram lá 600 milhões de dólares e a Alemanha Ocidental
injetou alguns milhões de marcos. Como resultado disso houve um grande
desenvolvimento econômico do lado ocidental (“ O milagre Alemão”), na década de
1960,sendo geradas mais de 600 mil vagas de emprego, para apenas 100 mil
funcionários, o que fez o país ter que importar mão de obra de outros países,
inclusive da Alemanha Oriental, onde a população jovem, pelo menos 3 milhões de
alemães orientais deixaram o país.
Já
do lado oriental não só a União Soviética deixava de investir no país, como
ainda pilhava a cidade de Berlim.
Para
o país isso era muito ruim, pois havia uma grande diferença econômica entre os
dois países e os alemães orientais fugiam para a Alemanha Ocidental em busca de
melhor qualidade de vida.
Se
o êxodo continuasse acontecendo em menos de uma década a Alemanha Oriental
ficaria despovoada.
O
que quebrava o país não era apenas o êxodo dessa mão de obra, mas também a
diferença monetária, uma vez que o marco alemão valia quatro vezes mais no lado
ocidental e essa relação de 4 para 1 favorecia o contrabando de alimentação e
bens de consumo, devido a URSS “subsidiar” a aquisição de alimentos e bens
necessários à população. E logo os alemães ocidentais perceberam que, tendo uma
moeda mais forte, poderiam comprar mais produtos na Alemanha Oriental que em
seu próprio país.
A
fuga de mão de obra juntamente com o contrabando, rendeu a Alemanha Oriental um
prejuízo de cerca de 130 bilhões de marcos.
Ulbrich
tentou resolver o problema da evasão de mão de obra que ajudava a quebrar o
país e, em agosto, os países integranres do Pacto de Varsóvia, decidiram
construir uma barreira que impedisse essa fuga.
No
dia 13 de agosto o muro começou a ser construído, primeiro com tijolos e em
seguida com placas de concreto, causando uma divisão que separou milhares de
famílias.
Houve
protesto por parte das potências ocidentais, mas de nada adiantou. A
geopolítica naquele momento caminhou para um cenário mais “tranqüilo”.
A
Alemanha dividida era interessante para soviéticos e americanos.
A
URSS temia que houvesse uma aproximação da China com os EUA e precisava estar
bem com a Alemanha para ter uma melhoria em alguns setores estratégicos da sua
economia e enfraquecer a OTAN. Ulbricht, o governante do lado oriental,
atrapalhou esse processo e foi pressionado a renunciar, ficando em seu lugar
Erich Honecker, que foi conivente com a política dos soviéticos.
Com
o passar dos anos, as duas nações alemãs acharam que era vantajoso para ambas
se aproximar dos EUA e a Alemanha Oriental passou então a se afastar da
URSS.
A
queda do muro de Berlim aconteceu de uma forma quase sem querer, porque o
Partido Socialista Unificado, que mandava na política da Alemanha Oriental,
propôs a liberação de viagens privadas, que deveria entrar em vigor na data de
10 de novembro de 1989, mas devido a uma falha de comunicação em um
pronunciamento a respeito dessa proposta, houve uma aceleração na queda do muro. No dia 09
de novembro, o porta-voz do partido, o senhor Gunter Chabowski, fez um
pronunciamento a respeito dessas novas regulamentações de viagem, porém, ele
não havia estado presente nas discussões. Ele não sabia que a lei entraria em
vigor apenas no dia seguinte, quando os guardas e todas as autoridades estariam
avisadas e a postos.
Os
jornalistas perguntaram a partir de quando aquela lei iria vigorar e ela
respondeu: “ Até onde eu sei, já está em vigor”. Disse também que as
regulamentações permitiriam até mesmo atravessar o muro rumo à Berlim
Ocidental.
Alguns
trechos desse pronunciamento foram ao ar na televisão e imediatamente milhares
de pessoas seguiram rumo à Berlim Ocidental.
Os
guardas não sabiam como reagir, pois não
tinham conhecimento dos detalhes da negociação para a travessia do muro. O
secretário geral autorizou que as pessoas passassem mostrando apenas o
passaporte, porém, era tanta gente que os guardas haviam perdido o controle. As
fronteiras entre as duas Alemanhas foram abertas naquela noite.
O
muro de Berlim havia sido construído não exatamente na fronteira entre os dois
países, e sim, mais ou menos 10 metros dentro do lado oriental, de maneira que,
quando alguém se aproximava do muro, do lado da Alemanha Ociental, era
proibido, pois já estava em território estrangeiro e era impedido pelos
guardas.
No
dia da travessia do muro, os policiais haviam subido no muro, mas já não
demonstravam intenção de repreender o povo. Além de aparentar grande cansaço,
eles se perguntavam : “Porque tudo isso ?”
Os
alemães orientais passavam pelo muro e eram recebidos com alegria no lado
ocidental. Os cidadãos da Alemanha Ocidental se aproximavam com flores nas mãos
e os soldados que estavam em cima do muro, e eram da Alemanha Oriental, se
ajoelhavam e baixavam o cano da arma e o povo colocava uma flor, numa
demonstração de que ambos os lados, queriam a reunificação da Alemanha.
Passada
a euforia, anos depois, os alemães da ex-Alemanha Ocidental, perceberam que
para eles a reunificação não fora o que se esperava, em vista de que o governo
taxava o povo com impostos mais altos para reedificar a ex-Alemanha Oriental, e
isso fez muitos alemães se manifestarem usando camisas nas quais estava
escrito: quero o meu muro de volta.

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